Lacan – sobre as relações de objeto

French Psychoanalyst Jacques Lacan

 

Em posts anteriores falei sobre a questão das escolas em psicanálise (link), enfocando o que me parecem ser “dois divãs”: um “divã” ou escola que acredita na necessidade de uma construção da subjetividade que é primeiro relacional ou ambiental, e só depois chega ao pulsional (como Winnicott), e outra escola ou ‘divã’ que entende que a subjetividade já nasce estruturada, ou se estrutura em termos de pulsão (ou linguagem).

Creio que Lacan é um grande exemplo dessa segunda linha.

Embora o pensamento de Lacan não seja um monolito – como, aliás, também não o é em Winnicott ou Freud – mesmo assim as pessoas se prestam a criticar o pensamento desses autores, entendendo que existe uma base comum, ou pontos de evolução que permanecem. Não sei se este é o caso em Lacan; conheço alguma coisa apenas de seus primeiros seminários. Entretanto, sua crítica em relação à teoria das relações de objeto me parece paradigmática, por englobar os pontos de ataque mais comuns dessa teoria. Daí o interesse do resumo que apresento na sequência, relativo ao Seminário 4 de Lacan sobre a teoria das relações de objeto.

***

Como se verá abaixo, Lacan critica o pretenso entendimento de que na teoria das relações de objeto haveria um objeto que completaria a pulsão, que seria inteiramente adequado a ela. Imagino que para quem já leu os textos anteriores sobre os “dois divãs” (links aqui e aqui) fique claro que não há uma questão aqui; trata-se, numa visão winnicottiana, de uma má questão ou de uma questão mal colocada. Numa palavra, para a teoria das relações de objeto, uma tal questão nem se coloca: não se trata de o objeto ser ou não completamente adequado à pulsão, porque nem pulsão, nem objeto, nem muito menos sujeito estão “montados” no início da vida, e é esse o enfoque e o interesse da escola relacional. Ao menos em Winnicott.

 

Para o autor inglês, é necessária toda uma montagem da subjetividade, aonde “o” objeto aparece em várias formas, adquire vários significados. Nesse caminho de desenvolvimento ou montagem, há um ponto relativamente tardio aonde a subjetividade já existe como algo integrado, e é então, e só então, que o objeto pode ser vivido como falta, como causa do desejo ou como “objeto a”, na linguagem de Lacan. Mas antes desse ponto de integração o objeto participa de diversos outros desenvolvimentos, e é nisso, repito, que está o foco da escola.

 

Lacan argumenta que a relação mãe-bebê seria condicionada pelo significante que já existe na mãe, e, nesse sentido, não criaria nada. Para Winnicott, entretanto, a relação é sempre exterior aos seus termos – como dirá Deleuze, aliás – e, nesse sentido, adiciona algo ao que já existia. Sem contar a necessidade de adequação entre o significante já existente e o ritmo / necessidade da criança, que ainda não está definido pelo significante. Essa relação – mesmo que a mãe já esteja “definida” – é em si mesmo aberta, indefinida, e é dela que tudo depende  – ao menos na visada winnicottiana.

 

Daí o desinteresse da linha das relações de objeto no tocante a essa questão. Porquê o novo, o diferente, o ainda não estabelecido, é justamente esse período de montagem da subjetividade. O objeto ou a falta dele, como aliás bem nota Lacan, já existe em Freud. Não há novidade aí. E a estruturação da mãe, por si só, não resolve a questão da adequação dela à criança, ou, dito de outra forma, da maneira como a criança vai viver a relação dela com a mãe.

 

***

 

Seja como for, a crítica lacaniana permanece como exemplar por reunir a maioria dos pontos de embate em torno da escola das relações de objeto. Se, como pretendi, houve ai um mal entendido em relação aos termos da questão, ou se, de fato, Lacan rejeita os termos do problema na forma como se colocam na linha winnicottiana, são questões para outro momento. Até porque, como mencionei, houve muita transformação no pensamento lacaniano.

 

De resto, como digo sempre, acho que tais embates entre escolas tem de ser respondidos fundamentalmente na prática clínica; só aí há interesse nesses problemas, e é justamente nesse contexto que apresento essas questões – visando auxiliar na retirada de um certo “mau olhado” da clínica winnicottiana, ainda hoje vista como muito condescendente com os pacientes – como se ainda buscasse o encontro perfeito com o objeto.

 

***

Lacan :
Sobre as relações de objeto e as estruturas freudianas 
(os comentários depois da indicação” –>” são meus)
 

Relembra rapidamente os anteriores 3 seminários. O primeiro sobre a técnica, isto é, “as noções de transferência e de resistência”. “O segundo ano abordou a base da experiência e da descoberta freudianas, a saber, a noção do inconsciente, sobre o qual acredito ter-lhes mostrado bem que foi ela que impôs a Freud introduzir os princípios (…) paradoxais (…) que figuram em Além do Princípio do prazer” (pg 09/10). Finalmente, no 3°ano dei-lhes um exemplo manifesto da necessidade de isolar o significante para compreender qualquer coisa na analise, no campo das psicoses. 

 
–> já aqui um ponto: as psicoses, para W, tem menos a ver com o significante do que com o EU e sua constituição na dependência absoluta 
 
Ao fim desses 3 anos de “crítica”, chega ao esquema Z, que é esse: 
 
schema-l
Moi (a) = eu 
autre (a’) = outro 
Es (S) = significante (?) 
Autre (A) = Outro 
 
“Este esquema inscreve, inicialmente, a relação do sujeito com o Outro. Tal como constituída no começo da análise, esta é a relação de fala virtual, pela qual o sujeito recebe do Outro sua própria mensagem, sob a forma de uma palavra inconsciente. Esta mensagem lhe é interditada, (…) desconhecida, deformada (…) pela interposição da relação imaginária entre a e a’, entre o eu e o outro, que é seu objeto típico. A relação imaginária, que é uma relação essencialmente alienada, interrompe, desacelera, inibe, inverte na maioria das vezes, desconhece profundamente a relação de palavra entre o sujeito e o Outro, o grande Outro” (10) 
 
Comenta que hoje em dia os analistas dão prevalência à teoria das relações de objeto como central na clínica: “Volta-se a ser central nela a dialética do princípio do prazer e do princípio de realidade, e funda-se o progresso analítico numa retificação da relação entre sujeito e objeto, considerada como uma relação dual” (11). Mais adiante: “A partir do momento em que a relação de objetos, como dual, se refere precisamente à linha a-a‘ de nosso esquema…” (11) – SERÁ? 
 
–> de fato essa visão da relação de objeto como retificação está muito simples; não é retificar uma relação entre sujeito e objeto tidos como já constituídos, mas ver que ambos SÓ SE FORMAM NA RELAÇÃO, e que portanto mudando a relação mudam, em si mesmos, sujeito e objeto. (cabe perguntar se a relação é dual se contar a própria ‘relação’ como um terceiro termo) 
 
“é muito difícil, a propósito da relação de objeto, partir dos próprios textos de Freud, porque ela não está neles” (12)  
 
–> diferente de Mezan, que entende que a teoria das relações começa em Freud 
 
“Em Freud, fala-se, é claro, de objeto” (12).  
Apresenta 3 tipos de aparição do objeto em Freud:  
1) o objeto como tal;  
2) o objeto em relação com a realidade “Fala-se implicitamente do objeto, a cada vez que entra em jogo a noção da realidade” (12). E 
3) com relação a “ambivalência de certas relações fundamentais, isto é, o fato de que o sujeito se faz de objeto para o outro, que já um certo tipo de relações em que a reciprocidade, pelo viés de um objeto, é patente, e mesmo constituinte” (12/13) – comparar com a noção de MUTUALIDADE em W. 
 
Acentua que em todas essas maneiras, o objeto é perdido. Trata-se de um objeto a se reencontrar. “Freud insiste no seguinte: que toda maneira (…) de encontrar o objeto é (…) a continuação de uma tendência onde se trata de um objeto perdido, de um objeto a se reencontrar” (13) 
 
–> Sim, mas a confiança de que existe um objeto a ser reencontrado precisa ser criada… na relação. (ao menos para Winnicott)
 
Parece sugerir que o objeto perdido e o objeto reencontrado nas fases do desenvolvimento não são o mesmo. O perdido seria sempre uma busca; o reencontrado, mesmo sendo “o ponto de ligação das primeiras satisfações da criança”, não é nunca aquele que foi perdido. (13) 
 
Nesse sentido: “Existe aí uma distância fundamental, introduzida pelo elemento essencialmente conflitual incluído em toda busca do objeto” (13). Isto é, distância entra o objeto perdido e o objeto que se encontra na busca pelo objeto perdido. 
 
Compara a concepção platônica, onde existe o reencontro, o reconhecimento, a reminiscência – isto é, o objeto é adequado, esperado antecipadamente, cooptado à maturação do sujeito – e a noção de kierkegaard de repetição, “repetição sempre procurada, mas nunca satisfeita. Por sua natureza, a repetição se opõe à reminiscência. Ela é sempre, como tal, impossível de saciar. É nesse registro que se situa a noção freudiana da redescoberta do objeto perdido” (14) 
 
Acentua o caráter de CONFLITO nessa relação entre o sujeito e seu mundo. “Como poderia ser diferente, se, já desde aquela época, é essencialmente da oposição entre princípio de realidade e princípio de prazer que se trata??” (14) 
 
–> Então: a relação do sujeito com o mundo (ou o objeto) é conflitual porque ela expressa a tensão entre princípio de prazer (PP) e princípio de realidade (PR) 
 
O PR é uma continuação do PP, mas é também algo bem diferente dele (14). “O PP tende, com efeito, a se realizar em formações profundamente irrealistas, enquanto o PR implica a existência de uma organização ou de uma estruturação diferente e autônoma, condicionando que o que ela apreende pode ser (…) diferente daquilo que é desejado.” (14) 
 
Aproxima a relação conflituosa entre o sujeito e o objeto, fadado a um “retorno impossível” e a relação também complexa entre PP e PR. “A realidade (…) está em oposição fundamental em relação ao que é procurado pela tendência” (15) Por isso a satisfação tende sempre a ser alucinada. (15) 
 
O fato dessas duas posições não serem articuladas (em Freud…) indica que, para Freud, não é em torno da relação do sujeito ao objeto que se centra o desenvolvimento. “em nenhum caso a relação sujeito-objeto é central” (15) 
 
Se a relação sujeito-objeto parece se sustentar, é sempre nas ditas relações pré-genitais, as quais implicam sempre A IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO COM O PARCEIRO. Essas relações são vividas numa reciprocidade (…) de ambivalência entre a posição do sujeito e a do parceiro. (15) 
 
Essa relação direta, recíproca, de sujeito-objeto, que implicaria identificação, é uma relação em espelho. Fala então da fase do espelho, que não é somente o momento em que a criança reconhece a sua imagem, mas “ilustra o caráter de conflito da relação dual”. (15) 
 
Mas o principal que a criança apreende nessa fase é a distância que há entre suas tensões internas e a identificação com essa imagem (15/16). Isto é, não tem nada de satisfatório nessa identificação. 
–> Lacan pressupõe um sujeito muito inteiro, capaz de perceber essa diferença entre objeto buscado e encontrado, bem como essa insatisfação na identificação; NISSO reside um ponto importante de diferença com Winnicott (para quem o sujeito tem que ser montado mesmo em sua percepção – na integração de sua percepção, etc)
Depois tenta fazer uma micro-história da análise, dizendo que a questão do objeto nasce em Abraham, que centra a análise na questão do objeto até chegar a uma ‘normalização’ do sujeito em relação ao objeto (16) 
 
Diz que a colocação em primeiro plano das relações do sujeito com o meio é uma redução do que é proporcionado na experiência analítica (17) 
 
Fala sobre um livro conjunto centrado nas relações de objeto (não sei qual) 
 
“Sobre as relações do sujeito com o mundo, vemos afirmado um paralelismo, a todo momento, entre o estado de maturação (…) das atividades instintuais e a estrutura do Eu” (18) 
 
Nas citações, mostra uma tipologia entre os sujeitos: os pré-genitais, que teriam a unidade do EU sustentada pelas relações objetais com alguém significativo – e trocam tudo por essa relação, dependem dessa relação – e os genitais, que seriam mais objetivos, não dependeriam de nenhum objeto e manteriam a unidade do EU por seus objetos internos. (pgs 17-20) 
 
Propõe separar o estabelecimento da realidade como tal, com a objetividade e plenitude do objeto. Isto é, chegar a estabelecer a realidade é uma coisa, e o modo de relação com o outro, os objetos, seria outra. (20) 
 
Diz que existem outras concepções da relação de objeto. Cita Glover, para quem o objeto seria instrumento para mascarar o fundo fundamental de angústia que caracteriza a relação do sujeito com o mundo (20/21) 
 
Pega o exemplo de Freud, que dizia não haver relação entre o objeto da fobia ( o cavalo de Hans?) e o medo que esse objeto tentaria encobrir. (21) Por outro lado, diz que, para a relação de objeto, o fetiche teria a mesma relação que a fobia com o objeto: em ambas o objeto complementaria uma falta no real, um furo. (22) 
 
Critica essa noção ‘mágica’ de relação de objeto segundo a qual (na visão dele…) bastaria chegar a ser um genital para que o objeto não colocasse mais questões. Convoca a noção de objeto-fetiche de Marx para dizer que não é tão simples assim, que um objeto pode ser cheio de questões mesmo para um ‘genital’. (22/23) 
 
O objeto genital é a mulher (24). A ideia de um objeto harmônico, encerrando, por sua natureza, a relação sujeito-objeto, é perfeitamente contradita pela experiência – mesmo a experiência comum das relações entre o homem e a mulher. (25) 
 
Retoma as quatro formas de apresentação do objeto: 1) como redescoberto (o que excluiria o objeto autônomo, real, não tomado nessa busca pela redescoberta); 2) como alucinado sobre um fundo de realidade angustiante; 3) como real, não mais ligado ao medo; 4) como reciprocidade imaginária (25) 
 
“A identificação com o objeto está no fundo de toda relação com este” (26). Seria a esse ponto que mais se ligou a relação de objeto moderna, ocasionando um imperialismo da identificação (26). Assim, o progresso da análise se reduziria à identificação com o eu do analista (26) 
 
–> para ver como ele não entende (ou rejeita) a questão do co-engendramento dos termos eu-objeto pela relação (nem como a repetição – transferência entra nisso) 
 
Propõe uma definição de neurose obsessiva: “Um obsessivo é um ator que desempenha seu papel como se estivesse morto. O jogo a que ele se entrega é uma maneira de colocá-lo ao abrigo da morte. É um jogo vivo que consiste em mostrar que ele é invulnerável. Para este fim, exercita um adestramento que condiciona todas as suas abordagens de outrem. Vamos ve-lo numa espécie de exibição onde se trata, para ele, de mostrar até onde pode ir (…) o pequeno outro, que não passa de seu alter ego, o duplo dele mesmo. O jogo se desenvolve diante de um Outro que assiste ao espetáculo. Ele próprio nada mais é que um espectador, a própria possibilidade do jogo e o prazer que dele retira residem aí. Em contrapartida, ele não sabe que lugar ocupa (…) Quem dirige o jogo afinal? Sabemos que é ele mesmo” (26). 
 
–> notar a diferença de W., para quem esse ‘jogo’ é jogado porque o obsessivo não pode confiar, e precisa controlar o outro, e para Lacan parece que se trata de matar o desejo, controlar o desejo 
 
Trata-se de “um jogo de trapaça, que consiste em chegar o mais perto possível da morte ficando ao mesmo tempo fora do alcance de todos os golpes, porque o sujeito, de certa forma, matou antecipadamente o desejo” (27) 
 
Afirma que ‘toda’ solução na relação de objeto seria introjetar a agressividade, por ex., e daí conclui que “Ao considerar a relação dual como real, uma prática não pode escapar às leis do imaginário, e o desfecho dessa relação de objeto é a fantasia de incorporação fálica” (27) 
 
“Toda consumação da relação dual (…) faz surgir em primeiro plano este objeto imaginário privilegiado que se chama o falo” (28) 
 
A noção de relação de objeto é impossível de compreender (…) se não pusermos nela o falo como um elemento, não digo mediador (…) mas terceiro” (28) 
 
“A relação imaginária, seja qual for, está modelada numa certa relação que é, efetivamente, fundamental – a relação mãe-criança” (28) Ele sublinha que não se trata de uma relação real, mas imaginária.  
 
E toda a análise tentaria ser o desenvolvimento dessa relação básica, mãe-criança. Mas sempre que se faz intervir este elemento imaginário se apresenta o falicismo imaginário. Que, também, não é um dado real. (28/29) 
 
“Toda a ambiguidade da questão levantada em torno do objeto e de seu manejo na análise se resume no seguinte: o objeto é ou não o real?” (29) Vincula isso aquela noção de que, ao final da analise, normalizado, o sujeito teria uma ‘boa’ relação com o objeto e com o real (30) 
 
O falo não é o pênis. O falo só é concebível no plano imaginário: “se nunca foi formulado que o isolamento deste objeto só era concebível no plano do imaginário” (30) mesmo assim é isso que vemos surgir em vários desenvolvimentos (klein, Jones, etc). 
 
Para analisar essa posição recíproca do objeto e do real, fala um pouco sobre o real. Demorou pra falar dele, pois “o real está no limite de nossa experiência” (30). “Só podemos nos referir ao real teorizando” (31) 
 
Quando se fala do real, pode-se visar coisas diferentes. Trata-se em primeiro lugar do conjunto daquilo que acontece efetivamente. (31) Critica a necessidade de referência orgânica nos médicos e psicanalistas, como superstição, necessidade de segurança (31).  
 
Compara a superstição pelo real com alguém que, vendo uma hidrelétrica num rio, entende que a energia que a hidrelétrica acumula é a mesma que já existia no rio. De fato é a mesma energia, mas só a manipulamos – ela só existe pra nós – quando acumulada, transformada, pela máquina. Acho que se refere à energia psíquica, que só existe para nós quando ‘acumulada’, transformada, pela psique, e não pelo organismo (supondo que não exista nada orgânico aí…) (32) 
 
A necessidade de se referir à realidade nada mais representa que ignorância da realidade simbólica, que é onde nos deslocamos (32) 
 
Freud usa outra noção de realidade. POr exemplo, no contraste entre PP e PR, ele mostra que o PP se exerce de maneira tão real quanto o PR. (33) 
 
Daí passa a analisar o artigo de Winnicott, sobre o Objeto transicional. Diz que os conceitos PP e PR foram substituídos por atores, sendo o PP uma relação com o seio materno, e o PR o abster-se dessa relação. (33) 
 
Comenta Winnicott: para que tudo ocorra bem, a mãe deve apresentar o objeto real no mesmo lugar onde a criança o alucina. Não há, então, distinção entre real e alucinação no início. (34) Essa distinção virá com o tempo, com a desilusão, a partir da não-coincidência do objeto e do alucinado. Os objetos transicionais seriam objetos a meio caminho dessa distinção, nem puramente reais, nem puramente alucinados. (34) 
 
Diz que os objetos transicionais são objetos imaginários (34) 
 
Dai critica aqueles que, falando do fetiche, procuram vincular o objeto do fetiche ao objeto imaginário, não percebendo “a distância que possa haver aí entre a erotização do objeto-fetiche e a primeira aparição do objeto enquanto imaginário” (35) 
 
O que é esquecido numa tal dialética – é a noção da falta de objeto (35) – não fica claro se ele inclui Winnicott nesse esquecimento, ou se W. seria um suplemento a esse esquecimento. 
 
A noção de falta do objeto é “a própria mola da relação do sujeito com o mundo” (35) 
 
Diferencia castração, frustração e privação. A privação é uma falta real (por ex, a mulher é privada de pênis – ?); a frustração é um dano, um prejuízo, uma lesão; é um dano imaginário; é o domínio da reinvindicação; diz respeito a algo que é desejado e não obtido; a castração é uma dívida simbólica. (pg 36). Esses são os três termos da referência da falta do objeto (37) 
 
O que é o objeto que falta nesses três casos? Na castração, o objeto é imaginárioNa frustração, o objeto é real. É sempre de um objeto real que sente falta a criança. O objeto da privação é um objeto simbólico. (pg 37) 
 
Retoma a metáfora da hidrelétrica, fala de energia e daí à noção de libido, noção “inteiramente abstrata (…) Não há nada que seja menos fixado a um suporte material do que a noção de libido” (44) 
 
Mostra conceito de libido como conceito ligado ao imaginárioonde o comportamento de um ser vivo na presença de outro liga-se pelos laços do desejo (45) 
 
Liga o Es (ics) à usinana metáfora anterior. E  uma definição: “O Es é aquilo que no sujeito é suscetívelpor intermédio da mensagem do Outro, de tornar-se Eu” (45). O Es não é uma realidade bruta, anterior, mas  está organizado como está organizado o significante (45) 
 
Passa À oposição entre PP e PR; o PP estaria ligado ao retorno ao repouso; o PR ao desvio pelo real para satisfazer PP. Mas o paradoxo do PP é que está ligado ao mesmo tempo ao repouso e à vontade, à ereção do desejo (46). Diz que o PR tbém tem um paradoxopois ele está ligado à realidade, mas também ao “contorno“, o desvio, da realidade (46). 
 
Liga o significante à pulsão: a idéia é que o significante e o significado são duas “linhas” sobrepostas, e que um significante pode significar qualquer coisa no significado, e vice versa; elas deslizam uma sobre a outra. E “Tudo que se apresenta na vontade, a tendência, a libido do sujeito é sempre marcado pelo vestígio de um significante” (47) 
 
instinto de morte seria esse limite do significadojamais atingido pelo ser vivo (47) 
 
Comenta que a relação do homem com a mulher não é pré-estabelecidanão  encontro possívelrelação, no limite (mais adiante diránão  relação sexual…) (48;49) 
 
Relaciona a idéia de falo – que seria ‘arquetípica‘, por assim dizer, anterior à “usina” do sujeito porque pertencente à linguagem – a estruturação do Ics como linguagem. Essa estruturação remete à história da humanidadeela organiza os sujeitos, e por isso o Ics não é algo “natural”, mas dessa ordem de naturalidade da história (49) 
 
Repete: “Por trás do significantesituei para vocês no esquema essa realidade última, que é completamente velada ao significado e igualmente ao uso do significante – possibilidade de que nada do que está no significado exista. O instinto de morte nada mais é, com efeito, que percebermos que a vida é improvável” (50) 
 
Freud teria colocado que o significante existe sobre um fundo de morte (essa experiência de um ‘além do significante‘..) (50) Depois: “O sujeito é levado a se comportar de uma maneira essencialmente significanterepetindo indefinidamente algo que lhe é, propriamente falando, mortal” (50)
 
“A relação central de objetoaquela que é dinamicamente criadora, é a da falta” (51) repete 
 
Para ele, o narcisismo se reduz à uma questão imaginária um reservatório de libido (narcísico) de onde parte a libido para os objetos, que são fundamentalmente imagens (52)
Repete a história da discordância entre o objeto primeiromaterno, e o objeto reencontrado, que nunca será igual (52) 
 
Sugere que o imaginário se estrutura depois das relações entre o significante e o real; logo,  está determinado por eles (53) 
–> Nesse sentido, a escola das relações de objeto, baseada numa noção de relação dual e em objetos transicionais, seria uma escola do imaginário – que já estaria condicionado pela relação do significante com o real
 
Retoma a conceitualização de antes: castração = dívida simbólicafrustração = dano imaginárioprivação = falta no real. Dai comenta como algo pode estar faltando no real, se como ele mesmo disse antes (não registrei) no real não pode haver falta, as coisas sempre estão em seu lugar  falta com relação à minha expectativa de lugar (54/55) 
 
Apresenta uma imagem da teoria das relações de objeto como solipsistacomo se houvesse uma harmonia pré-estabelecida entre o sujeito e os objetoscomo se o sujeito crescesse sozinhotirasse seus objetos de si mesmo e, no fimesses fossem também os objetos do mundo (55) 
 
Sugere que existe semprena mãeuma certa imagem do falo, e que a criança é esse falo para a mãeAssim, se a mãe tem um problema nessa relação com o falo, a criança  nascerá sob esse signoAcho que ele está sugerindo que essa estrutura simbólica da mãe vai estruturar o mundo simbólico do filho, e isso estruturará seus objetos e suas relações – e não as relações… (ou seja, é um exemplo de como o significante estruturaria a relação, e não o contrário [a relação estruturando o significante] (55/57) 
 
Apresenta a história do pai como estruturante simbólico dessa relação entre a mãe e o filho; e que a fobia seria um apelo por essa presença simbólica singular que ‘regulasse‘ a relação entre a mãe e o falo e o filho. (58/59)

Uma resposta para “Lacan – sobre as relações de objeto

  1. Pingback: LACAN – O SEMINÁRIO (LIVRO 1; AULA 5) | eu(em)torno·

Deixe um comentário