Pesquisas sobre o que é efetivo nas terapias – Carl Rogers

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Eis uma coisa que sempre defendi aqui, e que encontrei mais embasada  num livrinho de Carl Rogers, chamado “Tornar-se Pessoa”. Recomendo a leitura, nem que seja pela proximidade incrível com Winnicott.

 

Nos parágrafos que vou transcrever adiante, e que compõe as páginas 27 a 29 do livro, Rogers comenta os resultados de alguns estudos que buscavam entender o quê faz uma relação ser “de ajuda” para alguém. Conclusão: o principal é a relação mesmo, a atitude de receptividade, confiança, a empatia. Numa palavra, importa mais a QUALIDADE da relação do que a interpretação, a orientação analítica ou qualquer outra coisa.

 

Claro, são pesquisas científicas, e como todo mundo sabe (ou, ao menos, deveria saber) qualquer pesquisa é uma aproximação da verdade. Não devem ser tratadas como verdades absolutas – mas também não como mentiras absolutas…

 

Enfim, segue o texto:

 

A maior parte dos estudos realizados são esclarecedores das atitudes da pessoa que ajuda, atitudes que nessa relação favorecem ou, pelo contrário, inibem o crescimento. Vejamos alguns deles.

Um estudo cuidadoso das relações pais filhos foi há alguns anos realizado no Fels Institute por Baldwin e outros (1), estudo que encerra interessantes informações. Entre os diferentes agrupamentos de atitudes dos pais para com os filhos, são as atitudes de “aceitação democrática” as que parecem melhor favorecer o crescimento. As crianças, quando são tratadas pelos pais com afeto e de igual para igual, revelam um desenvolvimento intelectual acelerado (QI mais elevado), maior originalidade, maior segurança e controle emocional, menor excitabilidade, do que as crianças que provêm de outros tipos de família. Embora o seu desenvolvimento social fosse de início mais lento, tornavam-se frequentemente, quando atingiam a idade escolar, líderes populares, amigáveis e não agressivos.

Quando as atitudes dos pais são classificadas como sendo de “rejeição ativa”, as crianças manifestam um leve retardamento no seu desenvolvimento intelectual, uma utilização relativamente pobre das suas capacidades e urna certa falta de originalidade. Essas crianças são emocionalmente instáveis, rebeldes, agressivas e agitadas. Os filhos de pais que apresentam outras síndromes de atitude tendem a situar-se entre estes dois extremos. Estou certo de que essas conclusões não surpreendem no que se refere ao desenvolvimento infantil. Gostaria no entanto de lhes sugerir que elas provavelmente também se aplicam a outras relações, e que o psicoterapeuta, o médico ou o administrador que se mostra caloroso e expressivo, respeitador da própria individualidade e da do outro, que se interessa sem ser possessivo, provavelmente facilita a autorrealização através dessas atitudes, tal como os pais.
Voltemos agora nossa atenção para um outro estudo profundo realizado num campo muito diferente.

Whitehom e Betz (2, 1t) estudaram o sucesso alcançado por jovens médicos internos no seu trabalho com pacientes esquizofrênicos numa enfermaria psiquiátrica. Escolheram para essa investigação os sete internos que tinham sido claramente de maior ajuda e os sete cujos pacientes tinham manifestado menor progresso. Cada um dos dois grupos havia tratado cerca de cinquenta pacientes. Os investigadores examinaram todas as causas suscetíveis de explicar em que é que o grupo A (o grupo bem-sucedido) era diferente do grupo B. E encontraram diversas diferenças significativas. Os médicos do grupo A tendiam a ver o esquizofrênico em termos da significação pessoal que determinados comportamentos tinham para o doente, de preferência a vê-lo como um caso clínico ou um diagnóstico descritivo. Além disso, seu trabalho estava orientado para a personalidade do paciente, mais do que para a atenuação dos sintomas ou para a cura da doença. Ficou assim estabelecido que, na sua interação cotidiana, os médicos do grupo A tinham recorrido sobretudo a uma participação pessoal ativa — uma relação de pessoa a pessoa. Tinham feito menos uso de processos que se poderiam classificar como “passivos e permissivos”. Fizeram ainda menos uso de processos tais como a interpretação, a instrução ou os conselhos ou ainda outros, orientados para os cuidados materiais em relação ao doente. Por último, ter-se-iam mostrado muito mais aptos do que os médicos do grupo B em conseguir estabelecer com o doente uma relação que permitisse a este confiar no seu médico.

Os autores, no entanto, sublinham prudentemente que essas conclusões só se aplicam ao tratamento dos esquizofrênicos, afirmação da qual estou inclinado a discordar. Desconfio que semelhantes observações poderão ser feitas num estudo de investigação sobre a maioria dos tipos de relações de ajuda.

Um outro estudo interessante focaliza a maneira como a pessoa que recebe a ajuda apreende a relação. Heine (11) estudou indivíduos que haviam recebido ajuda psicoterapêutica de psicanalistas, de terapeutas centrados no cliente e de adlerianos. Fosse qual fosse a forma da terapia, esses clientes verificaram em si mesmos análogas transformações. Mas o que aqui nos interessa de modo particular é a sua captação da relação com os terapeutas. Quando se lhes perguntava a que eram devidas essas transformações, davam diferentes explicações que dependiam da orientação do terapeuta, mas o mais significativo era que todos estavam de acordo sobre os principais fatores que tinham achado benéficos. Indicavam que os seguintes elementos atitudinais na relação com o terapeuta eram responsáveis pelas modificações neles verificadas: a confiança que tinham sentido no seu terapeuta; o fato de terem sido compreendidos por ele; o sentimento de independência que tiveram ao fazer opções e tomar decisões. O procedimento do terapeuta que consideravam de maior ajuda era o de este clarificar e exprimir abertamente o que o paciente abordara vagamente e com hesitação.

Por outro lado, esses pacientes estavam amplamente de acordo, fosse qual fosse a orientação do seu terapeuta, sobre os elementos desfavoráveis na relação. A falta de interesse, uma atitude distante e que afastava, ou ainda uma simpatia excessiva, eram fatores tidos como desfavoráveis. Quanto aos procedimentos, consideravam desfavoráveis aqueles em que o terapeuta dava conselhos diretos e precisos ou em que concedia uma grande importância ao passado em vez de enfrentar os problemas atuais. Os conselhos dados como simples sugestões eram captados como pertencentes a uma zona intermediária: não eram nem completamente de ajuda, nem eram de todo inúteis.

Fiedler, num estudo frequentemente citado (7), observa que os terapeutas experientes, de diferentes orientações, sustentavam relações similares com seus clientes. São bem menos conhecidos os fatores que caracterizam essas relações e que as diferenciam das que estabelecem terapeutas menos experientes. Esse fatores são: uma capacidade para compreender o que o cliente pretende significar e os seus sentimentos; uma receptividade sensível do cliente; um interesse caloroso, sem uma excessiva implicação emocional.

Um estudo de Quinn (14) focaliza claramente o que se deve entender por compreensão das significações e dos sentimentos do paciente. O que há de surpreendente no seu trabalho é que ele nos mostra que a “compreensão” das intenções significativa do cliente é essencialmente uma atitude de desejo de compreender. Quinn ofereceu aos seus peritos apenas gravações de frases pronunciadas por terapeutas durante entrevistas. Os avaliadores não tinham qualquer conhecimento daquilo a que o terapeuta respondia, nem da reação do cliente às suas respostas. Mesmo assim, viu-se que era possível julgar o grau de compreensão por meio dessas gravações com tanta segurança como se estivessem ouvindo a resposta no seu contexto. Esse fato mostra conclusivamente que é a atitude de querer compreender que é comunicada.

Quanto à qualidade afetiva da relação, Seeman (16) conclui que o bom resultado em psicoterapia está intimamente ligado à simpatia e ao respeito crescente que se estabelecem entre cliente e terapeuta.

Um interessante estudo de Dittes (4) indica como é delicada essa relação. Utilizando um método fisiológico, o reflexo psicogalvânico, para medir as reações de ansiedade, de temor ou de alerta no seu cliente, Dittes estabeleceu as correlações entre os desvios segundo essas medidas e as apreciações dos avaliadores sobre o grau de aceitação calorosa e de permissividade por parte do terapeuta. Verificou que sempre que a atitude do terapeuta tende, mesmo ligeiramente, para um menor grau aceitação, o número de desvios bruscos da resposta psicogalvânica sofre um aumento significativo. E claro que, quando a aceitação é sentida como mais fraca, o organismo organiza sua defesa contra a ameaça, mesmo no nível fisiológico. Sem pretender integrar completamente as descobertas desses diversos estudos, pelo menos é possível notar que alguns pontos sobressaem. Um deles é o fato de que as atitudes e os sentimentos do terapeuta são mais importantes que sua orientação teórica. Seus procedimentos e suas técnicas são menos importantes do que suas atitudes. Deve-se também sublinhar que é a maneira como suas atitudes e seus procedimento são percebidos que é importante para o cliente, e que o crucial é a percepção.

PS: Procurei as referências das pesquisas no texto e não encontrei (estou utilizando um texto que encontrei na internet).

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3 Respostas para “Pesquisas sobre o que é efetivo nas terapias – Carl Rogers

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