Grav(a)ção – Contato Imediato (Arnaldo Antunes)

Como comentei no post sobre Chico Buarque, entendo que umas das características da obra de arte é ela ser aberta; nunca se trata de “desvendar” o que está ‘escondido’ ou ‘mal-dito’ na poesia, por exemplo, senão que há várias coisas sendo ditas ao mesmo tempo, como “camadas” de sentido reverberando entre si.

Ás vezes, essas várias camadas se cruzam, se integram, como cores num arco-íris, produzindo tons e semitons novos, sentidos originais, e esse processo se relança com aquilo que nós, consumidores da arte, lhe adicionamos, fazendo da obra um algo realmente vivo, algo que se transforma no contato conosco.

A música que gravei mais abaixo me faz pensar, em alguma de suas ‘camadas’, na… morte. Sim, apesar do tom neutro, o contexto geral me faz pensar no fim, como se o narrador estivesse passando para outra pessoa, talvez uma criança, a seguinte mensagem: “jovem, a vida acaba. Mas então é como se voltássemos a ter com a Terra um tipo de contato mais intimo, que já tivemos antes. Morrer não é mais do que ser levado por um tipo de vida que ainda não conhecemos”.

***

Mas… será que foi isso mesmo que o autor quis dizer? Na realidade, não importa. A obra de arte, como algo vivo, já não pertence mais ao seu criador, uma vez expressa, posta pra circular. Cada um terá dela uma perspectiva, e isso, se me fiz entender, é parte da riqueza da arte.

Enfim, segue a letra, com a versão original, e uma versão gravada, ao final.

Peço por favor
Se alguém de longe me escutar
Que venha aqui pra me buscar
Me leve para passear

No seu disco voador
Como um enorme carrossel
Atravessando o azul do céu
Até pousar no meu quintal

Se o pensamento duvidar
Todos os meus poros vão dizer
Estou pronto para embarcar
Sem me preocupar e sem temer

Vem me levar
Para um lugar
Longe daqui
Livre para navegar
No espaço sideral
Porque sei que sou

Semelhante de você
Diferente de você
Passageiro de você
À espera de você

No seu balão de são joão
Que caia bem na minha mão
Ou numa pipa de papel
Me leve para além do céu

Se o coração disparar
Quando eu levantar os pés do chão
A imensidão vai me abraçar
E acalmar a minha pulsação

Longe de mim
Solto no ar
Dentro do amor
Livre para navegar
Indo para onde for
O seu disco voador

E aqui, a minha versão:

https://drive.google.com/file/d/1zWp7beCvnCnXyJ-nf3W1pQlbkwk1bDpw/view?usp=sharing

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s