Alguém já descreveu a saúde como “o silêncio dos órgãos”, e basta estarmos doentes para perceber como essa definição é certeira. Na doença, há sempre alguma função, algum órgão, que pede nossa atenção, que grita, que se faz sentir. Voltar à saúde, então, é voltar “ao silêncio dos órgãos”; ao momento em que eles simplesmente funcionam, e mal percebemos sua existência.
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Mal comparando, isso se aplica também à pessoas. Começamos conhecendo as camadas mais visíveis dos outros, aquilo que eles mesmos conhecem, e às vezes até fazem questão de mostrar e exibir. Mas com o tempo vêm as camadas mais profundas, muitas vezes desconhecidas pelos próprios sujeitos. Camadas que funcionam “na surdina”, no silêncio, e que governam, impávidos, os rumos dos acontecimentos ‘da superfície’.
Também os grupos funcionam assim, e não é incomum que o funcionamento familiar repouse sobre um indivíduo que simplesmente não aparece. Todo grupo tem seus extrovertidos, suas pontas de lança; mas há também aqueles que comandam e sustentam esse palco, trabalhando de forma diligente e quieta para que as coisas aconteçam.
Desnecessário dizer que, em política, em geral conhecemos apenas a fachada das coisas, e aqueles que efetivamente comandam nunca estão efetivamente em cena.
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Tudo somado, parece haver uma necessidade de sombra para esse bom funcionamento dos órgãos. Ou, por outra, expor, sair à luz, poderia ser algo desnecessário, algo custoso. Não é isso que nos sugere a natureza, afinal, ao esconder tão bem nossos órgãos?
Ou talvez estejamos, como sempre, mal acostumados com a luz, e utilizemos nossa experiência (consciente) como parâmetro de funcionamento para tudo.
O que, tudo somado, é apenas outra forma de escuridão –