Fim de semana, manhã, sol. Pego parte da composteira para retirar a terra. Apreciando o trabalho das minhocas, vejo que faço algo hoje quase esquecido. Sinto que sou como um astronauta que voltasse à terra, depois do cataclismo, ou um dos colonizadores de marte. Focando no essencial. Apenas o essencial.
É estranho, porque, por extemporâneo que seja meu gesto, sinto uma grande continuidade entre ele e… alguma coisa. A “vida”, talvez? É verdade que sempre quis viver em outro tempo, na idade média, no séc XVIII… Já com 9 anos me saí com essa: “nascí no tempo errado”. Não sei daonde tirei isso. Mas o sentimento perdurou, e tive que me haver com ele.
Pensando bem, não é preciso muito para concordar que vivemos numa “idade média”. Na verdade, para NÃO pensar assim, é preciso viver num contexto diferente daquele em que vivo. Nós queimamos árvores, cancelamos diferenças e o feminino… bem, está em vias de extinção.
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Mas não quero falar dessas complicações. Voltemos à composteira. Eu e minhas minhocas, repetindo velhos rituais. Esquecidos, no presente, mas eternos. Rituais de morte, transformação e renascimento. Visíveis, palpáveis, em coisas tão simples… A reciclagem é um mundo. Repete o mundo, em sua misteriosa simplicidade.
Sei que isso não repercute “no insta”, mas nem sempre a vida está lá. Ao meu olhar medieval, parece até que a vida tem mais a ver com castelos, fantasmas, crentes e pagãos. Acho que erro menos, ao entender o mundo assim. E a mim, também.
De qualquer forma, o “individual” sempre é excluído. Toda individualidade é mal vista. É a “humanidade”, em nós, que nos separa da humanidade.
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Mas volto à minha composteira. Algo precisa morrer, aqui, para algo renascer. Então, mãos à obra –