O mito do Deus-semente

Escrevi esse mito/poema espontaneamente, a partir de minhas próprias ideias, faz alguns anos. Hoje, vejo nele um conjunto de mitologemas mais ou menos convencionais, já existentes na literatura, mas que eu não conhecia (no gnosticismo, por ex).

Isso, de certa forma, confirma a intuição do próprio mito – isto é, que nossas ideias refletem, no fundo, o encontro da vida com as condições concretas da realidade. Como ambos andam por linhas mais ou menos perenes, há repetições, há constantes. Algo próximo daquilo que Jung chamou de “arquétipos”.

Fica, então, como registro.

***

O mito do Deus-semente

Depois de criado o universo, com infinitos planetas de composição diferente, tratava-se de conhecê-los. Para isso Deus enviou a cada um, periodicamente, pedaços de estrelas, meteoritos, turbulências, que abasteciam todos com algum ingrediente que faltava.

Assim iniciou o Deus-semente.

Aqui, mobilizadas por meteoros, as formas de vida começaram como pequenas células, pequenos agrupamentos de matéria. A evolução da vida mostra a maneira como aquele impulso vital inicial se diferenciou e englobou, cada vez mais, as especificidades do planeta.

A vida nada mais é, então, do que um processo de conhecimento por diferenciação e assimilação multilateral. Plantas, musgos, peixes, aves, animais, dão-nos uma imagem de quão variada pode ser a vida, mas essa imagem é o reflexo de um princípio ilimitado no encontro com as especificidades da matéria em nosso planeta. Ela reflete a vida que foi possível diferenciar aqui.

Cada espécie, cada indivíduo, é um passo adiante no caminho do conhecimento vivo do planeta.

O homem, temporariamente a imagem final desse processo, já tráz em si algo que demonstra o princípio ilimitado de onde proveio a vida

A consciência, nossa capacidade de deliberação e determinação, é a mistura ilimitada que foi possível concretizar nesse planeta de água e pedra, junto a uma série de limitações pragmáticas, destinadas a levar o impulso adiante.

A consciência, nesse sentido, é o oposto do conhecimento vivo, tal como se cristalizou em cada corpo, no nosso DNA

A consciência é um esbanjamento que aponta para o elemento inicial, o princípio ilimitado, porém vazio de conhecimento concreto sobre o universo – porque conhecer é, pra ele, rebaixar-se.

E a vida do planeta nada mais é do que um processo mediante o qual seu impulso ilimitado conheceu o planeta, chegando até o homem – que, espelhando o processo, também o conhece.

Num certo sentido, somos a mistura do ilimitado e da limitação de onde viemos; conjugamos, em nossa estrutura, a vida tal como ela precisou se configurar para se manter, aqui, e esse princípio ilimitado e sem forma que apenas prossegue.

Somos uma imagem do Deus semente em nosso desconhecer; e uma imagem do mundo naquilo que conhecemos.

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