Religião como limite e complemento à ciência

Ciência e religião como dois tipos de relação com o real – na ciência, uma relação de dominação, pelo homem, e na religião, uma relação de aceitação, de adequação, do homem, às coisas. Nesse sentido, a religião é um complemento da ciência, e, idealmente, deveria atuar junto com ela.

Nos povos originários, inclusive, religião e ciência estão misturados. São a mesma coisa. Hoje, há uma hybris do lado da ciência, fazendo crer que o homem pode dominar tudo. A ecologia mostra a falha dessa premissa.

Essa hybris se apoia, do lado da religião, numa noção onde o religioso é uma fuga do real – e não um meio para se relacionar com ele. É aí que noções como a de Nietzsche iu Winnicott, onde fica explícito qie precisamos de intermediação simbólica para nos relacionar ao real, são ‘contra intuitivas’, revolucionárias. Pois instauram um limite para o saber do homem, baseado na sua saúde – só o que é criado por mim faz sentido. E o criado é sempre uma mistura de real e símbolo (=falso).

Nesse sentido, a doença mental é o outro lado do movimento em direção à conquista do mundo, ao controle de tudo. A doença nos chama de volta à nossa necessidade de ilusão. É aí que os remédios psiquiátricos que apenas emudecem os sintomas mostram seu papel fundamental na manutenção de nosso desequilíbrio científico. 

Reconquistar, então, a boa consciência para o lado da ilusão, é uma maneira de reequilibrar as relações entre ciência e religião. 

(qdo a ciência vira mercadoria, meio que tudo se perde, todos os valores são dissolvidos e se tornam ‘dinheiro’. Por mais que o dinheiro seja ‘agnóstico’ ou pragmático, na verdade, quando se torna o único valor dominante, ele solapa todos os outros valores. Nesse sentido, instaura uma nova religião, um novo deus. Esse deus não é o homem, mas a hybris do homem. Parece então que o religioso poderia ser, também, uma medida para o capitalismo, um limite, ao erigir valores perante os quais nem o capital vale)

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2 Respostas para “Religião como limite e complemento à ciência

  1. Não sei se estamos falando a mesma coisa, mas se me permite, eu escreveria ao invés de:
    “mistura de real e símbolo (=falso).” outra coisa. Evitaria noções como falso e ilusão, preferindo “subjetivo”. Aliás, há uma subjetividade no real, como há uma objetividade no símbolo. Não há (ao menos acesso) ao real puro, e também aquilo que é simbólico, pessoal, cultural, subjetivo se objetiva.

    Mas o ponto crucial é que aquilo para que não temos resposta não conseguimos com razão nomear de ilusão.

    Consigo ver que Deus pode operar como uma necessidade psicológica. Posso até questionar sua antropomorfização. Posso questionar a moral que se atrela a ele. Mas dizer que não existe, é falso, ou que esta crença é ilusória, não me cabe.

    Noções de falso e ilusão (ao menos no sentido popular) são carregadas com as pretensões mais fortes de verdade e ciência….

    Curtido por 1 pessoa

    • O criado é sempre falso (= em parte, subjetivo), e, por isso mesmo, é bom e necessário.
      A mesma necessidade que torna o falso (=subjetivo) bom, torna a religião, algo bom. Pois a religião é o falso (=subjetivo) que necessitamos para suportar o real.
      Hoje, os termos mudaram. Se alguém, por exemplo, acredita que sua finitude fica “resolvida” quando vê a felicidade nos filhos, essa ideia, seja filosofia, coatch ou “neurociência”, é, pra mim, virtualmente igual à religião. Como diria Winnicott, toda a cultura (e aí se inclui a religião) é um derivado do espaço transicional, esse espaço que é ao mesmo tempo um pouco de real e um pouco de fantasia.
      Mas obviamente não estou definindo, em termos “reais”, o que os termos “falso” ou “real” designam, em termos absolutos. Isso seria sair da potência do falso, e pretender “saber” QUE é o real “em si”. Eu estou justamente abdicando disso. Estou afirmando a necessidade de trabalharmos com termos relativos. No fim das contas, nem temos opção

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