O coveiro

Eu ando por aí,

por nossas cidades de pedra e vidro,

de pá na mão,

como um cavaleiro andante,

buscando mortos para enterrar.

.

Sou um coveiro,

o continuador de antigos rituais

pelos quais tudo o que desce,

bem enterrado,

como semente, sobe, renova,

renasce.

.

Mas a cidade não quer coveiros

e em meio às pedras e ao aço

não há mais terra, nem espaço,

nem semente, nem broto,

nem vontade,

.

Só há cadáveres,

cadáveres andantes,

procurando, em desespero,

um lugar para dormir,

tocar a terra,

enraizar-se,

e morrer, na paz.

.

Eu sou um coveiro,

e ando pelo mundo,

cultivando antigos rituais,

onde a vida continua

da terra.

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