Acredito que em nosso atual estado de consciência, “religiosidade” pode ser pensada como um reconhecimento dos limites de nosso pensamento.
Mais exatamente, nosso ego, nossa consciência, que trabalham para ordenar o mundo, para dominá-lo, podem ir até um certo ponto. Mas, desse ponto em diante, já não se trata de consciência. A ordem do mundo repousa sobre algo mais.
O mundo é ordenado, la fora, e também aqui dentro, por forças que não controlamos. Elas estão aqui, Nas diversas disposições que o corpo cria; em seu poder de cura; na sabedoria que se expressa no sonho; Na capacidade de criar a vida.
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Religião seria, então, perceber os limites do nosso controle, e ao mesmo tempo reconhecer que há forças maiores trabalhando, ao nosso redor, e também dentro de nós.
A paz de se perceber em ressonância com essas forças. De se deixar levar não pela consciência, mas por um fluxo maior, como se apenas flutuássemos no rio da vida, levados por suas correntes.
Obviamente, cada religião dá um nome para essa “outra força”, uma descrição, uma história. Mas aí já estamos no campo da consciência, de novo. São tentativas de domar, controlar, entender, racionalizar, o que está, por definição, para além do que pode ser pensado.
Pelo mesmo motivo não faz sentido algum as tantas críticas “esclarecidas” que lemos sobre religião, já que todas essas críticas se atém ao aspecto racional, nominal, ao dogma, à história, que cada religião conta.
Mas a religião, mesmo, aquilo que interessa, não está nessas histórias, mas numa experiência profunda de nosso próprio limite.
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Creio que somente quem vive esse limite, com humildade e respeito pelas forças maiores que entrevê, entende a experiência da religião. Mesmo sem saber nada dos dogmas.
Os dogmas, no fundo, são convites. São armadilhas com as quais tentamos capturar o espírito. Ás vezes, indicações dos caminhos que outros percorreram, até encontrar esse limite de si mesmos.
Mas, como em tudo, não podemos nos tornar sábios pelas mãos dos outros. Somente a experiência nos leva adiante.