Lembro dos cafés da manhã, quando eu era criança.
A mesa posta, o café, o leite, quentes, fumegando.
A expectativa do dia,
misturada aos sabores do pão, a geleia o açúcar.
Tudo isso embalado na novidade de um pequeno ser,
que tudo via e ouvia e tocava e sentia com prazer
de uma vida que começa.
.
Lembro do sol, amanhecendo,
nos dias em que ia à escola.
Aquela miríade de tons e semi-tons
aquela sinfonia de cores,
mais o frescor da manhã,
os pássaros, felizes, cantando,
e eu, no esplendor de meus poucos anos,
a tudo fruindo,
feliz por poder caminhar, respirar, me mexer, olhar,
entrar em relação com esse mundo tão vasto,
.
Hoje, muito mais velho,
me surpreendendo lembrando disso tudo
e percebendo, com um sorriso,
que aquela criança continua aqui,
colada, anexada, junto à essas lembranças.
Mais do que isso,
ela está viva, aqui, em algum canto
do peito.
Basta baixar o barulho da consciência,
diminuir a luz,
e me conectar com a vida, que flui,
ainda,
lentamente,
dentro de mim.