
Entro no uber. Já passa da meia noite, as ruas estão tranquilas. Ou não. O motorista, absolutamente cansado, mal consegue dizer alguma coisa. Partimos. O contraste entre as luzes das placas, dos carros, e a escuridão negra da noite me chamam a atenção. Sinto que estou andando num daqueles filmes futuristas, onde a tecnologia é a única coisa viva que resta, e o humano é… uma pergunta.
O que é o humano, numa grande cidade?
***
Seguimos andando. Ruas, ruas, ruas. Asfalto. Pressa. Cansaço. Carros voam rasantes, como indivíduos. Nenhuma alma viva. Nenhuma noção de conjunto. Só o “cada um por si” nosso, de cada dia. E todos passam. Sozinhos. Embriagados. Em abandono. Em outro tempo, outro espaço. Quem está aqui, agora? Onde está a Vida? Onde estão os homens?
O que é humano, nessa cidade?
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O humano se estampa nas esquinas, no asfalto. Na multidão dos outdoors. Na ansiedade de cada fachada. Pois toda construção agora é uma loja. Não há casas, não há plantas. Nenhum espaço vazio. Tudo é cheio, transbordante. Ou pretende ser. Tudo se vende. Para quem? Qual é a verdadeira mercadoria, nesse matadouro? Quem é o verdadeiro habitante da cidade, aqui onde não há mais ninguém?
(Todos são ninguém).
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O humano se estampa, por sua ausência. Por seu contrário. Aqui, moram prédios. As ruas vivem aqui. As lojas são a verdadeira vida. Pra quê, humanos?
A cada passo nos aproximamos do deserto. Somos estranhos, num ninho de metal. Passo a passo, dia a dia. Nós mesmos nos retiramos. Nem precisaremos dos ciborgues para nos retirar do mundo. Triste cidade –