Eu vi muitas críticas sobre o novo Matrix. De fato, ele não se compara aos anteriores. Não tem o mesmo impacto visual, não tem os mesmos efeitos, e provavelmente nem o mesmo orçamento. E o principal, não tem a mesma intenção.
Isso, não entanto, não decorre apenas do filme em si, da direção ou roteiro. Isso decorre, principalmente, do meio. Daquilo em que nos tornamos.
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******** AVISO: CONTÉM SPOILERS!!!! *********
Ao menos, essa foi a minha leitura do filme. Ele é diferente porque nós somos diferentes. E essa mudança é tudo.
Boa parte do filme se relaciona com a crítica daquilo que Matrix produziu: tornou-se mais um objeto de consumo, mais uma “ilusão”, mesmo que pretendesse falar sobre o abandono das ilusões.
A trilogia Matrix questionava o sistema, e foi engolfada pelo sistema. Esse novo filme trata disso – talvez, de maneira propositalmente “não tão vendável”. Como se eles não quisessem ser muito bons, e assim… ‘bugar’ o sistema?
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Como esclarece o personagem ‘Merovíngio”, antes tínhamos filmes, arte, livros, melhores. Éramos mais antenados, mais políticos. Acreditávamos que mudar era possível.
Hoje, a mudança ficou pra trás, soterrada como num engarrafamento. As pessoas apenas querem viver suas vidas e olhe lá; não há mais ideais. Não há mais resistência. Como diz outra personagem: “quando não sabemos o que é a realidade, fica difícil resistir”.
E esse é o ponto em que estamos, enquanto público / sociedade. Não sabemos mais o que é real – e isso nem sequer é um problema. Nos anestesiamos de tal forma, que nem sentimos falta. Não por acaso, o Merovíngio, antes representante da cultura e do poder, hoje é um mendigo, revoltado mas impotente. Como a cultura, ele já não tem mais lugar.
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Ví muitas críticas à Matrix, portanto, mas elas não são de todo justas, porque o principal problema não está nele, mas em nós. O filme faz uma leitura correta daquilo que nós nos tornamos: infantis, desiludidos, apáticos, “gameficando” tudo, como se tudo fosse apenas uma brincadeira.
Nenhuma mensagem sobrevive, assim. Sem poder ser levada à sério. E esse é o ponto em que estamos.
Matrix se tornou, no fundo, apenas entretenimento. Isso pode ser entendido como um passo adiante para os autores. Como um reconhecimento da nossa medida, da medida humana, que ocupamos. Mensagens muito grandes não são pra nós. Pretender salvar o mundo, mudar o mundo… não era isso, ainda, uma ilusão?
Diferente da apatia em que vejo o mundo, no entanto, para quem pensou o filme, essa humildade não precisa significar descrença. Esse talvez seja o sentido final, a mensagem principal do filme. Como o “agir pela não ação”, do oriente, temos aqui uma “mudança pela não intervenção”. Uma mudança que advém pela manutenção da crença na possibilidade da mudança. Como no primeiro Matrix, uma mudança que vem quando se acredita na mudança –